Viaje no mundo de Caramelos e Almofadas
- Barbara Leite
- 28 de fev. de 2018
- 2 min de leitura

PARA PLANTAR LEMBRANÇA
Não tem mais tic-tac
os relógios correm digitais
até o merthiolate
quando uso não me arde mais
Eu já não ouço o tempo
mas ainda sinto dor
Não tem mais telegrama
sentimento é virtual
e a música baiana
resumiu-se em carnaval
Eu já não mando cartas
mas ouço os filhos de Canô
E diante das mudanças – Ando Diante das andanças – Mudo Diante das mudanças – Muda
TEMPORÃO
Num beijo que nem chegou a ser de amor
é onde estou agora
Era terra infértil de novo
e eu ali me semeando
Não sei que doença há nos meus olhos
e nos meus sentidos
Era superficial e fogo
e eu ali me semeando
Trovões e relâmpagos
alertavam da chuva
que não veio
Por que se injetou na dança, nos planos, nas ancas
se não era para durar?
Tudo o que é demais não cabe
e em silêncio recolhi as minhas sobras
Morri semente sonhando com podas
MALIGNO
Algumas palavras
eram difíceis dizer
Calei e apodreceram em mim
PANORAMA
No tempo que assistia o mundo
dependurada nos pés de ameixa
Eu rodopiava canções bonitas em companhia do meu amado e saboreava maçãs do amor nas festas juninas e tinha um estoque de bilhetes apaixonados...
Contudo,
o tempo nada deixa
Onde estão as paisagens
que eu ria do arvoredo?
Pra ser só, me sobrou coragem desisti do uso do amor placebo
MAREMOTO
São ciclos desejando
oceanos e paz
quase suplicando areia
e rede
E depois, tudo tanto faz.
O mar causa angústia
por mais de cinco dias
Ser descalça inflama
a mente
Me consolo nas águas de minha mãe
por mais um instante
Ninguém é ileso ao asfalto:
É preciso um Niemeyer ao alcance
é necessário que meu olhar se fragmente
na próxima parede
assim lembro-me pequena e
limitada.
Uma vez infectada de pressa
Apresenta-se sintoma latente de
Madalena e Mariana.
Mochila de novo nas costas
O último olhar de paulistana.
Riso, gratidão e alívio num
suspiro alto
E eu ainda Morro de São Paulo
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